set 03 A necessidade de exercitar o apego.

Olá pessoal. Cá estou eu novamente para conversar um pouquinho com vocês…ando totalmente sem tempo em função do 8º semestre da faculdade, estamos no momento mais puxado e cansativo do curso, mas ao mesmo tempo a produção e aquisição de conhecimento está imensa, e isso me deixa muito feliz. Bem, mas o post de hoje não é sobre isso…o post de hoje na verdade é um desabafo (como tantos outros que andam surgindo ultimamente). Vou falar sobre apego. Até que ponto você teria coragem de se desfazer de seu animal de estimação que viveu anos junto com você?

Enfim….essa noite durante meu plantão uma pessoa veio até mim perguntar se eu não sabia de alguém interessado em uma gatinha persa, pois ela estava querendo doar a dela. Como sempre, perguntei o óbvio: “que idade tem?”; “é castrada?”; “qual o motivo da doação?” As respostas realmente me surpreenderam: “ela tem 8 anos, é castrada e eu não a quero mais porque ela está fazendo xixi por toda a casa!”

Respirei fundo. Nessas horas a gente precisa contar até mil antes de sair dando esporro, pois a vontade é bem essa. Mas resolvi orientar, conversar, investigar. Problema comportamental? Caixinha de areia no local correto, grande o suficiente e higienizada todos os dias? Algum fator estressante que pudesse estar desencadeando esse comportamento? Algum animal novo na casa? Aparentemente nenhum desses fatores parecia estar influenciando o comportamento da gatinha. Problema orgânico então? Sim, provavelmente…segundo a “dona”, além de fazer xixi por todo lugar, ela estava comendo demais, o que obviamente deveria ser investigado, especialmente tratando-se de um animal que está entrando na terceira idade. Orientei então que antes de pensar em se desfazer do animal, fosse providenciado uma consulta com um veterinário, pois com o chegar da idade vários problemas tendem a surgir, entre eles problemas renais, cardíacos e hepáticos, desordens locomotoras, déficts visuais e auditivos entre outros. A resposta me surpreendeu ainda mais: ” – aff, não acredito, era só o que me faltava, tenho mesmo de levá-la ao veterinário?!”

A essa altura, já completamente irritada, perguntei então qual o tipo de relação que ela mantinha com a gata. Segundo ela, a gatinha foi comprada ainda filhote de um “lugar qualquer” e foi pra casa com cerca de 60 dias. Segundo ela, todos “amam” a gatinha. Mas hoje ela tem 8 anos e será doada  para a primeira pessoa que aparecer por estar possivelmente doente e fazendo xixi demais pela casa.

Esse tipo de coisa irrita e revolta qualquer um que tenha o mínimo de consideração pelo seu animal de estimação. Darwin já dizia que: “Não há diferença fundamental entre o Homem e os animais nas suas faculdades mentais (…) Os animais, como o Homem, demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento.” Então porque não considerar que um animal possa estar sofrendo, sentindo dor ou desconforto e que necessita de atendimento especializado? Porque acreditar que se desfazer dele será a melhor opção e ele não irá sofrer com isso? Porque considerar o desapego como primeira opção, quando se tem tantas outras  a serem analisadas? Em outras palavras, como é que alguém tem a coragem de simplesmente mandar embora seu animal que viveu com ele desde os dois meses de vida até os 8 anos de idade?

É algo realmente complicado de entender, o ser humano é um bicho complicado na verdade. Não se apega, não é solidário, não é empático, não é flexível, é frio, despreza, abandona, causa sofrimento à quem só causa alegria. Abandona seus idosos, abandona seus filhos, o que esperar que faça com seus animais?

Então deixo aqui um apelo…antes de você considerar a compra ou adoção de um animal de estimação, seja da espécie que for, considere que esse animal terá uma expectativa de vida de 10, 15, 20 anos ou até mais. Considere que a partir do momento que você optou por se responsabilizar por uma vida, terá de ser até o final. Que animais envelhecem, assim como você. Dão gastos, exigem tempo e espaço. Sentem frio, dor, fome, solidão, medo e felicidade, assim como você. Que animais desenvolvem um sentimento de afeição pelo seu guardião, aprendem a amá-lo por toda a vida, e qualquer separação trará tristeza e sofrimento. Que o abandono dói, machuca psicologicamente e fisicamente, animais abandonados ou doados sem que haja uma boa adaptação comem menos, se deprimem, sentem falta do dono, dos brinquedos, do ambiente em que moravam, de seu lugar preferido no sofá, de sua almofada, de sua caminha. Ficam assustados e arredios, podem ficar agressivos, muitos inclusive fogem na primeira oportunidade, na tentativa de reaver seu antigo dono. Considere que animais idosos são potencialmente frágeis e jamais, em hipótese alguma, devem ser descartados em função da idade ou de problemas originados por ela. Considere que para praticamente todo  problema tem uma solução viável, basta querer. Não é necessário abandonar, não é necessário se desapegar daquele que viveu toda a vida dele ao seu lado.

É necessário então exercitar o apego, a afeição, o carinho. É necessário adotar ou comprar com responsabilidade, pois uma vida será colocada em suas mãos. É necessário ser um bom guardião e cuidar até o final. E por favor, se você ainda estiver em dúvida, se você não tiver certeza absoluta de que poderá ser o dono que seu animal merece….não tenha um animal. Simplesmente porque para amar de verdade um animal, a dúvida não pode existir.