A História de Benji
"dia 1 de março de 1989 - falando com meu anjo. Olá, Meu anjo. Vamos falar um pouquinho de nós?
Vou contar agora a história do cão que mudou a minha vida. Seu nome é Benji, e hoje ele está no lugar mais lindo de todo o céu, na Ponte do Arco Iris. Tudo começou no início do ano de 1989, quando uma das cachorrinhas da minha madrinha emprenhou. Era uma viralatinha mestiça de Fox Paulistinha, branca e amarela, chamada Meg. Logo que minha madrinha ficou sabendo da prenhês, nos ofereceu um filhotinho. Seria o presente de páscoa de meu irmão, que na época estava com 8 anos de idade, e embora já tivéssemos um cão em casa, meus pais consentiram com o novo integrante da família.
Em 01 de março então, os cãezinhos nasceram. Obviamente que eu e meu irmão corremos até lá para conhecê-los, e claro, escolher o nosso. Eram 6, e um deles nos chamou a atenção, pois era o menor e estava encolhidinho no cantinho da caixa. Foi estranho, naquele momento já estava se estabelecendo uma conexão e só tínhamos olhos para aquele filhote, portanto não foi difícil escolher. Mal sabíamos que ele mudaria as nossas vidas.
O próximo passo era escolher um nome à altura. Sempre fui fã do cãozinho-ator Benji, e aquele nome parecia perfeito. Agora era só esperar os 45 dias previstos para que pudéssemos trazê-lo para casa. Porém, algo inesperado aconteceu: Meg faleceu quando os filhotes tinham uma semana de vida. Minha madrinha não tinha como cuidar de todos, então pediu que os novos donos fossem buscá-los. Era um dia de temperatura amena, mais para frio do que para quente. Enrolamos nosso Benji em um paninho e o trouxemos para casa. Ele tinha apenas 8 dias de vida, e era tão pequeno, tão frágil, tão lindo. Já estávamos apaixonados.
Cuidávamos dele como um bebezinho. Compramos uma mamadeira pequena, daquelas de recém nascido, e dávamos leite de duas em duas horas. Revezávamos-nos durante a noite, para que ele não sentisse fome ou medo. Cuidávamos para que ele ficasse sempre aquecido e confortável, arrumamos uma caixinha e panos macios. E assim ele foi crescendo feliz e saudável, nos enchendo de alegrias.
Levávamos ele passear todos os dias, ele sempre foi esperto e aprendeu tudo muito rápido. Fazia xixi e cocô no lugar certo, era educado com visitas e adorava gatos, tanto que muitos ele adotou ao longo de sua vida. Os anos foram passando e ele foi se transformando de filhote rebelde a um adulto educado e tranqüilo. Não dava trabalho, não estragava (quase) nada, sempre foi saudável e faceiro.
Em meados de 2000 meus pais vieram morar em Santa Maria, e Benji veio junto. Ele já era um senhor de quase 12 anos, mas ainda cheio de vida e energia. Brincava muito, visão e audição perfeitas, se adaptou rapidamente ao novo lar. Mas certo dia ele amanheceu sentindo dores. Aquele foi o início de uma nova etapa em nossas vidas, pois infelizmente as noticias do veterinário que o atendeu não foram nada animadoras. Aos 14 anos de vida, Benji foi diagnosticado com insuficiência cardíaca congestiva e ao que parecia, também tinha comprometimentos articulares e renais.
Então o levamos até o hospital veterinário universitário para exames mais detalhados. No raio-X, estava claro que a situação estava complicada: várias áreas de calcificação óssea ao longo de toda a coluna vertebral. O prognóstico era péssimo, pois além da insuficiência cardíaca, o problema articular era progressivo e irreversível. Realmente, logo Benji começou a sentir os efeitos da idade, mal conseguia andar, chorava muito e tinha crises freqüentes de falta de ar. Ele piorou rapidamente a ponto de não mais conseguir sair da caminha, o que nos obrigou a tomar uma decisão drástica: ou o mantínhamos naquela situação precária, ou decidiríamos pela eutanásia.
Foi horrível, nos reunimos ao redor da mesa da cozinha e conversamos horas a respeito disso. Por fim, chegamos à conclusão de que o melhor era a eutanásia, afinal ninguém gosta de ver quem ama sofrendo. Era setembro, então marcamos para o dia 21, pois era meu dia de folga do hospital.
Benji seguia piorando dia a dia, e a nossa angústia aumentava proporcionalmente. Então algo que jamais esperávamos aconteceu: dois dias antes da data marcada para a eutanásia, Benji levantou da cama e deu alguns passos pela sala. Meu cão estava andando, ele queria viver e estava nos dizendo isso, não poderia estar mais claro. Decidimos então investir nele, faríamos tudo o que estivesse ao nosso alcance. Recebemos um receituário lotado de medicamentos, diuréticos, analgésicos, antiinflamatórios, antiarrítmicos. A lista de cuidados não era menor: cuidados com o frio, com movimentos bruscos, alimentação, ingestão de líquidos, passeios controlados e sem esforços. Tínhamos de controlar seu xixi, seu cocô, como dormia, como se virar na caminha para não sentir dor. Nada de subir ou descer escadas, nada de correr demais, afinal nosso menino era agora um idoso cheio de problemas.
Fizemos uma planilha com os remédios que ele tinha de tomar todos os dias. Os passeios passaram a ser quase que totalmente no colo. Ele andava um pouquinho e logo cansava, então cuidávamos para que ele não se esforçasse demais. Ficávamos de olho em qualquer sinal de desconforto respiratório ou dor, aprendi como agir em situações de emergência até que o veterinário chegasse lá em casa. Ele passou a dormir ao lado de minha cama, e eu acordava de tempo em tempo para ver se estava tudo bem. Com o passar do tempo, ele passou a ter incontinência urinária, então era importante acordar durante a noite para que ele não ficasse molhado. Muitas pessoas me diziam que era loucura, afinal era apenas um cachorro, e pior, um cachorro velho. Mas poucas pessoas entendiam o que ele de fato significava para nós, portanto jamais nos passou pela cabeça deixá-lo em segundo plano.
Com todos os cuidados, nosso velhinho começou a melhorar visivelmente. Ninguém entendia como ele conseguia andar, brincar e até arriscar algumas corridas pelo apartamento sem gemer de dor ou desconforto. Ele comia muito bem, fazia xixi e cocô normalmente e adorava ir para o parque passear, devagarzinho, do jeito dele, claro. Aos poucos as crises de falta de ar foram se espaçando e ele voltou a ter qualidade de vida. A visão e a audição começaram a falhar, mesmo assim ele se mantinha esperto e ativo. Ganhou peso e dormia a noite toda, embora ainda fizesse xixi durante a madrugada. Tomava seus remédios diariamente sem reclamar e a nossa paixão por ele só aumentava.
Cuidar dele passou a ser nosso dia a dia, tudo girava em função dele. Não viajávamos, não saíamos de casa todos ao mesmo tempo, pois ele não podia ficar só. Fazíamos comida especialmente para ele conforme orientado pelo veterinário. Ele nos recompensava, com muito carinho e lambidas gratas e melosas. Ele nos trazia a bolinha e pedia para brincar. Cada minuto estava valendo à pena e comemorávamos seu duplo aniversário todos os anos: seu aniversário de nascimento e seu aniversário de renascimento.
Quatro anos se passaram, e Benji seguia sua vida calmamente e sem muitas intercorrências. Não observamos nenhuma piora significativa no seu quadro clínico, embora às vezes ele apresentasse alguma dor, principalmente durante o inverno. Mas então, em um final de semana de setembro ele piorou subitamente. Começou a vomitar e enfraqueceu rapidamente, e algo me dizia que ele realmente não estava bem, dessa vez estava chegando a hora. Avisamos o veterinário, que nos orientou como proceder, mas não nos deu muitas esperanças. O peso de seus quase 18 anos estava cada vez mais visível, e havia pouco o que podíamos fazer exceto prezar por seu conforto e bem estar. Na noite de domingo para segunda ele já não mais andava e respondia bem pouco à estímulos. Montamos acampamento na sala para ficarmos junto dele e chamamos o veterinário, pois se ele piorasse muito, faríamos a eutanásia. Então, pouco depois do veterinário chegar, ao amanhecer do dia 04 de setembro de 2006, ele se foi naturalmente. Tinha 17 anos, 6 meses e 3 dias, e morreu cercado de sua família e do veterinário que o assistiu por vários anos.
Benji se foi, mas deixou marcas eternas nos corações de sua família. E o que fica disso tudo? A certeza de que todo o possível foi feito. Cuidar de um animal, especialmente idoso, é extremamente compensador e nos ensina que o amor vai além de qualquer limite. Nos mostra que a idade trás junto maturidade e que a velhice é o momento mais frágil e especial de nossas vidas, é quando precisamos e merecemos todo o carinho e o cuidado do mundo. Aprendi isso com Benji. Aprendi a cuidar, a acalentar, a ter paciência e a respeitar limitações. Aprendi que o cuidado com um animal é a coisa mais deliciosa que existe, e em função disso, decidi cursar Medicina Veterinária. Meu futuro profissional será traçado junto com esses animais maravilhosos, e eu devo isso à ele, à um cão que me ensinou a ser uma pessoa melhor e mais humana.
O tempo passa, a dor vai diminuindo, mas a saudade fica. E o amor só aumenta. Não deixo de pensar nele um dia sequer, e agradeço por ele ter existido em minha vida. Quem dera que todas as pessoas tivessem tido um cão como o meu. Meu amigo, meu filho, meu cão...e agora, meu mais precioso ANJO lá do céu.
Te amo, te amo, te amo.
Obrigada por ter existido em minha vida!
Saudades eternas de você!
De sua mana:
Silvia"
Benji morreu aos 04 dias do mês de Setembro de 2006.
Tinha 17 anos, 6 meses e 3 dias, e morreu em sua casa cercado da família, e do veterinário que o assistiu por vários anos.
Benji deixou marcas eternas nos corações de seus humanos, e agora é a estrela mais brilhante e linda do Céu!
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"Paurabens benji...nosso anjo!"