A História de Meg
Em outubro de 2008, após a morte de minha mãe, aluguei um apartamento para acomodar eu, minha sobrinha de 16 anos (que morava anteriormente com minha mãe) e o Júnior, meu poodle sênior de 12 anos. A nova tarefa de ser “mãe” não me pareceu fácil. Minha sobrinha, muito tímida e arredia, não interagia comigo de forma que eu pudesse ajudá-la como gostaria. Uma das decisões que tomei foi me tornar consultora, para aumentar a minha renda e, ao mesmo tempo, passar mais tempo em casa, trabalhando home office.
A segunda decisão veio do amor em comum que temos por animais: decidi que estava na hora de termos mais um companheiro de quatro patas. Sempre achei que cães podem ajudar muito o ser humano a expressar sentimentos, a desenvolver a responsabilidade e o momento era ideal para que eu pudesse realizar um antigo sonho: ter uma golden retriever, graças ao pequeno espaço de área aberta e privativa existente no novo apartamento locado.
Passamos novembro pesquisando os hábitos do animal e visitamos dois criadores da raça. Encontramos uma golden já com 7 meses e com um preço melhor (a raça é muito cara) e decidimos verificar a “capacidade” do nosso apartamento de receber a mocinha.
Não deu certo. A cachorra, linda e bagunceira, era muito grande para o pequeno apartamento de dois quartos, mesmo com a área de cinqüenta metros que, pensávamos, poderia ser um bom local pra ela. Foi com muita tristeza que desisti do intento…Em meados de janeiro de 2009 que tudo começou. Uma querida amiga, já bem conhecida por sua “mania” de resgatar cães abandonados, entrou em contato comigo e me contou a história da “Flor”.
No dia 23 de dezembro, no meio de uma forte chuva, ela encontrou na frente de sua casa, em um condomínio de Nova Lima, uma pequena caixa, com um filhote de cachorro, uma pequena manta, uma imagem de São Francisco e um bilhete solicitando ajuda para o frágil ser. Sem pensar duas vezes, ela colocou a cachorrinha pra dentro de casa e a abrigou em um quarto separado, temendo o ciúme dos outro cinco cães moradores da residência. A pobre filhote estava muito magrinha e fraca e aparentava todos os sinais típicos de abandono: pulgas, barriga inchada de vermes, bernes… além disso, estava faminta, pois devorou a ração em poucos minutos.
Conseguindo com dificuldade uma vaga na clínica veterinária, a internou para tratamento dos parasitas, vacinas e exames necessários. Foi quase um mês de internação até receber alta – e minha amiga não tinha a mínima ideia de onde colocá-la, já que em sua casa era impossível. Descobriu mais tarde que o salvador da filhote foi um vizinho que, por morar sozinho e não ter o hábito de ficar em casa, sabendo da sua compaixão pelos animais, deixou-a na porta da casa. A pequena foi encontrada na beira da estrada, no caminho para o condomínio. Conversamos e ainda sem muita certeza, aceitei a ideia de trazê-la para casa. Segundo minha amiga, ela deveria estar com quatro, cinco meses e era muito pequena…
Fomos eu e minha sobrinha buscar a “Flor” (nome dado pelas próprias atendentes da clínica) e nos deparamos com um animal muito alegre, brincalhão – e maior do que esperávamos. Também, quando foi encontrada, a pequena estava subnutrida! Sua chegada em nossa casa não foi tão festiva, pois, nas primeiras semanas o Júnior não gostou nem um pouco da nova presença.
Rosnava e avançava na pequenina, que indiferente aos ataques, teimava em chamá-lo para brincar…
Este mês está fazendo dois anos que essa princesinha faz parte da família. De Flor, passou a ser chamada de Meg, nome dado por minha sobrinha, que não mora mais conosco.
Após sofás, cadeiras e almofadas destruídas no apartamento, sua atual diversão é cavar buracos em nosso novo lar, em Lagoa Santa. É uma cachorra feliz, alerta e a mil por hora, tendo recebido o apelido de “demônio da tasmânia” de um dos meus amigos, pois não para nunca e está sempre querendo brincar. Ama todo mundo e é famosa por onde passa, pois não tem quem não se encante com sua energia e sua alegria de viver!
Algumas características comportamentais mostram que, apesar de encontrada tão nova, sofreu abusos quando abandonada: tem pavor de vassouras, principalmente das de lixeiros (e tem pavor de lixeiros também!); odeia chuva e foge da água com mais profundo terror). Também não gosta nada de sprays, provavelmente pela necessidade de tratamentos dos parasitas que a infestavam quando foi encontrada…
De uma vira-latas frágil e suja, se tornou um belo animal e vive sendo confundida na rua com o mais puro exemplar do Fox paulistinha, do qual herdou algumas características. Como não conheço sua procedência, não posso afirmar o grau de parentesco, mas não dou a mínima pra isso.
Aprendi nesses anos de convivência que, assim como nós, o que vale é a essência deste ser, não a raça inventada pelo ser humano.Graças a Meg, hoje sou totalmente contra o comércio de animais, pois percebo que este é um dos maiores culpados pelo abandono e maus tratos que eles sofrem ao se tornarem objetos comercializáveis na visão das pessoas.
Hoje ela e o Júnior são inseparáveis. Quando, semanas atrás, ele adoeceu, ela deitava ao seu lado e ficava me observando, como se pedisse ajuda para seu companheiro já tão idoso…
É uma luz em minha vida. E agradeço por cada almofada destruída, pelas marcas das patas em minha colcha na cama, pelos arranhões causados durante as brincadeiras mais animadas…
Muitas pessoas costumam dizer: “ah, adote uma criança, existem tantas abandonadas por aí”. Eu não tenho a menor condição financeira de criar uma criança, ainda mais sozinha. São custos absurdamente diferentes! E, se um dia eu tiver condições, espero que essa criança goste tanto de animais quanto eu e que também queira tê-los como amigos!
Uma coisa não exclui a outra…
“Todas as coisas da criação são filhos do Pai e irmãos do homem… Deus quer que ajudemos aos animais, se necessitam de ajuda. Toda criatura em desgraça tem o mesmo direito de ser protegida.”
São Francisco de Assis