Animais de Estimação - o vínculo
" Enquanto não amarmos um animal, uma parte de nossa alma permanecerá adormecida" Anatole France
Bichos e Crianças
Um começo saudável: O poder dos bichos na infância
Nossa afinidade com os animais é inata, mas nossa cultura também programa essa relação. Desde o momento em que a criança tem idade suficiente para acompanhar uma história, os protagonistas de seus livros são quase sempre animais. A criança também vê os animais como heróis na televisão, nos desenhos animados e vídeo games, nos brinquedos, no cinema. Crianças de três a seis anos relatam que os animais aparecem em 61 por cento de seus sonhos, uma porcentagem que cai de forma drástica à medida que crescem. Aos nove anos, a proporção é de 36 por cento; aos 14 anos, cai para 20 por cento, finalmente se estabilizando em sete por cento. Entre as primeiras palavras 50 palavras que uma criança usa, sete são nomes de animais. Na verdade os termos “cachorro” e “gato” figuram no mesmo nível de “papai” e “mamãe” no vocabulário inicial da criança. Em muitos casos, são mais memoráveis do que “suco”, “leite” e “bola”. Os animais dominam o pensamento consciente e inconsciente de uma criança.
Atração Natural
Os pesquisadores Aline e Robert Kidd observaram crianças de seis meses a dois anos e meio de idade interagindo com um cachorro ou um gato acionado por pilha e também interagindo com seus próprios cachorros e gatos. Os Kidds constataram que as crianças emitiam mais ruídos, seguravam mais e seguiam mais os animais vivos que os brinquedos. Quando os pesquisadores observaram bebês de nove meses e suas mães numa sala, primeiro com uma mulher desconhecida, depois com um coelho pequeno, e mais tarde com uma tartaruga de madeira animada, descobriram que as crianças preferiam, disparado, o coelho. Na verdade, preferiam o coelho às próprias mães, engatinhando pela sala em seu encalço, tentando pegá-lo. A atração natural pela interação com os animais também surte efeitos positivos no desenvolvimento mental das crianças. Robert Poresky, professor de Desenvolvimento Humano e Estudos de Família da Universidade Estadual do Kansas, entrevistou 88 crianças em idade escolar e suas famílias, de cinco creches do Meio Oeste dos Estados Unidos, querendo determinar até que ponto os bichos de estimação influenciavam o desenvolvimento infantil. Descobriu que as crianças de famílias que possuíam animais tinham um nível superior de desenvolvimento cognitivo, social e motor.
Estímulo
Além do estímulo puramente sensorial que os animais proporcionam, a outra dádiva que um bicho bem adestrado oferece a uma criança pequena é um acentuado sentido de segurança. As crianças confiam no mundo para lhes proporcionar alimento, agasalho, afeição. A primeira necessidade pode não ser atendida por um companheiro animal, mas a coerência das reações que recebem dos bichos de estimação, em todo o resto, é capaz de aumentar a expectativa da criança de que será amada a apreciada. Desenvolvemos um senso positivo do eu – nossa identidade – pelas interações que fazem com que nos sintamos reconhecidos, aceitos e admirados, e pela experiência que demonstram que os outros notam o que fazemos e como nos sentimos. Os bichos de estimação oferecem tudo isso num espaço de tempo ilimitado. Os pais podem ficar absorvidos demais no frenesi da vida cotidiana para proporcionar aos filhos toda a segurança de que eles precisam, mas um bicho de estimação sempre lhes dará atenção e terá tempo para brincar com eles.
Ligação Afetiva
As crianças formam ligações poderosas com seus bichos de estimação, que em muitos casos podem ser tão fortes quanto a que têm com os pais. Referem-se aos bichos de estimação, como membros da família . As crianças em idade pré-escolar acreditam que os animais as ouvem e compreendem o que dizem, e em alguns casos até têm certeza que os bichos de estimação comunicam seus sentimentos. Estudos mostram que até mesmo crianças de acreditam na reciprocidade do amor que sentem por seus bichos de estimação. Em um estudo no qual crianças entre 6 e 12 anos de idade classificam seus relacionamentos mais significativos, os bichos de estimação tiveram as maiores pontuações, como aqueles que mais provavelmente estivessem presentes, “para o que desse e viesse” . Em um estudo com crianças da terceira série, convidadas a indicarem seus cinco principais relacionamentos, elas incluíram seus cachorros com tanta freqüência quanto seus pais. Ficou evidente que quando estavam doentes ou assustadas, consideravam mais confortadora a presença de seus animais do que a de seus melhores amigos. Um estudo com crianças numa região abalada pela guerra da Croácia constatou que aquelas que tinham bichos de estimação apresentavam níveis de transtorno de estresse pós-traumático muito mais baixo que as outras.
Aprendendo a cuidar
As crianças recebem cuidados, orientação e proteção, ma raramente têm oportunidade de oferecer tudo isso, a menos que tenham um animal pelo qual sejam responsáveis. Contudo, a próxima grande transição no desenvolvimento de uma criança é quando passa a depender menos dos pais, alcançando um certo senso de auto-suficiência, através de seus próprios esforços. Cerca de 99 por cento das crianças dos três aos 13 anos dizem que querem ter um bicho de estimação. Isso não significa que 99 por cento das crianças queiram desempenhar as tarefas secundárias desagradáveis, como recolher cocô de cachorro ou trocara areia da caixa. Mas não terão o benefício completo que podem obter do Vínculo se não fizerem isso.
Os pesquisadores quando examinam o relacionamento entre crianças e bichos de estimação, tentam determinar até que ponto a criança é afeiçoada ao animal. Um dos mais populares instrumentos de medida é a Tabela de Vínculo com um Companheiro Animal, desenvolvida por Robert Poresky. O teste indaga, numa escala cujas respostas variam de “sempre” até “nunca”, o quanto a criança é responsável pelo bicho de estimação. Alimenta-o e limpa-o? Com que freqüência permite que durma em seu quarto? Outras perguntas permitem que a criança determine o grau de intimidade do relacionamento.
No estudo de Poresky, com crianças em idade pré-escolar, quanto mais alta a pontuação na escala do vínculo como animal, mais altas as pontuações em todas as medidas de desenvolvimento e empatia. E, quando os pais são convidados a classificar as habilidades sociais de seus filhos, aqueles que têm a classificação mais alta na tabela de Vínculo também são os que têm a classificação mais alta na capacidade de confortar e a mais baixa na recusa de cooperar. É evidente que quanto mais contato a criança têm com o bicho de estimação, mais intensamente sente o Vínculo. Se a criança também assume a responsabilidade de cuidar do animal, o Vínculo se torna ainda mais forte.
Aprendendo a Amar
Quando as crianças descrevem seu relacionamento com bichos de estimação, falam do amor que sentem por eles e de suas rotinas. Dessa maneira, diz Boris Levinson, um pioneiro no uso de animais em psicoterapia, a intimidade com os animais promove a auto-estima, o autocontrole e a autonomia. O ato de cuidar – significado alimentar, educar ou treinar, assim como ajuda a crescer – exige que as crianças leiam sinais não-verbais e atendam devidamente às necessidades por eles expressas. Com isso os bichos de estimação ajudam as crianças a se sentirem competentes de maneiras muito mais complexas do que quando aprendem a usar o trono, comer os legumes ou amarrar os sapatos. Parte do sentido de Constança que proporcionam, diz Blenda Bryant, professora de Ciência Comportamental Aplicada da Universidade da Califórnia, em Davis, está no fato de que as rotinas e necessidades dos animais permanecem constantes, enquanto o mundo ao redor da criança faz exigências cada vez mais complexas.
- Os animais interagem com as crianças, e seus sinais são bastante claros – disse Poresky, quando conversamos sobre sua pesquisa. – O cachorro senta no meu pé e se encostam em mim, quando quer dar uma volta. A compreensão de que há uma criatura com sentimentos diferentes dos seus afasta as crianças de seu ponto de vista egocêntrico. A compreensão dessa diferença é a base do desenvolvimento da personalidade. Se você quer que seus filhos sejam criaturas sociáveis, ajude-os a desenvolver a empatia.
O interesse das crianças pelos bichos de estimação é o elemento forte da infância que sobrevive enquanto amadurecem, criando uma constante, num mundo em transformação. Ao estudar o modo como os animais e as crianças cuidam uns dos outros, a professora Gail Malson pediu a um grupo de pais que classificassem como seus filhos no pré-escolar, da segunda a quinta série, passavam seu tempo. Na idade pré-escolar, as estimativas dos pais mostravam que as crianças eram muito ligadas à vida doméstica. Brincavam e cuidavam dos bichos de estimação, tinham mais contato com pessoas mais velhas e com seus irmãos menores. Conhecendo o nível de habilidade da maioria das crianças em idade pré-escolar, presumo que isso reflita o fato de que passam muito tempo com a mãe, que lhes pede para ajudá-la, dentro de suas limitações. Ao entrarem na escola, os passatempos da idade anterior ficavam para trás. Aumentava a preocupação com os bebês em geral e os irmãos em particular diminuíam, mas o interesse pelos bichos de estimação mantinha-se firme, mesmo quando as obrigações aumentavam.
Responsabilidade
O que os animais oferecem aos pais é uma oportunidade de uma experiência que envolve emoções, responsabilidades e conseqüências. Há muito conversa fiada sobre ensinar as crianças a ter mais responsabilidade. Você pode falar com os seus filhos tudo que quiser sobre comportamento apropriado e juízo, mas as palavras só fazem sentido para eles no contexto de suas ações. Quando recebem uma nota ruim na escola, são apanhados numa mentira ou desapontam alguém, percebem e sentem os resultados do que fizeram ou deixaram de fazer. Essas lições podem durar uma vida inteira, mas não tanto quanto as experiências positivas, como costuma acontecer com as lições proporcionadas pelos animais de estimação.
Tentar pressionar a criança a arrumar seu quarto ou varrer as folhas caídas no quintal pode se tornar uma luta pelo poder para o adulto e uma chance para a criança exercitar sua habilidade de esquivar-se às suas responsabilidades. Qual é a suprema conseqüência de não arrumar seu quarto? Um quarto bagunçado e algumas palavras mais duras por parte dos pais. Ao contrário de outras tarefas domésticas, no entanto, os bichos de estimação reagem. A conseqüência de não cuidar do animal como deveria é a possibilidade de causar-lhe um sofrimento significativo.
O ato de alimentar e cuidar de um bicho de estimação – pôr as necessidades de outra criatura na frente das suas – é uma lição que deve ser aprendida desde cedo. Essa competência vital na infância aprofunda o Vínculo e, em conseqüência, a interdependência emocional. A criança e o bicho de estimação formam seu mundo de segredos, que nunca serão traídos. Há longas sessões de diversão em que nenhum dos dois pensa em qualquer outra coisa. Quando funciona pode ser uma grande fonte de estabilidade emocional e auto-confiança para as crianças. Tornam-se também a base para um caráter mais maduro. Em estudos realizados no Japão e na Austrália, os professores relataram que as crianças que tinham mais intimidade com animais apresentavam índices mais altos de liderança e altruísmo.
Auto Confiança
As crianças que conheciam o suficiente sobre seus bichos de estimação para descrever sua rotina e seu comportamento costumavam destacar-se em termos de competência. Os pais de crianças no jardim-de-infância muito afeiçoados a seus bichos de estimação relatavam menos problemas de comportamento. Os professores tinham mais facilidade com essas crianças na sala de aula. Em outro estudo crianças que disseram ter recebido um apoio emocional significativo de seus bichos de estimação foram classificados pelos pais como menos ansiosas e retraídas. Os pais que querem estimular a autoconfiança em seus filhos deveriam comprar um gato. Um estudo suíço realizado com 540 crianças, de quatro, seis e oito anos de idade que gostavam de gatos, constatou que essas alcançaram nos testes de autoconfiança uma pontuação mais lata, e os donos de cães e gatos tiveram melhores resultados no comportamento pró-social. Os bichos de estimação proporcionam uma oportunidade de aprendizado também para os pais. Quando um casal expressa dúvidas sobre sua capacidade de criar os filhos, o psicólogo infantil Foster Cliner recomenda um teste preliminar fascinante. Sugere que peçam emprestado o bicho de estimação de um amigo e verifiquem até que ponto podem controlá-lo. Os elementos implicados na criação de um bicho de estimação bem comportado são os mesmos que devem ser usados para disciplinar as crianças. Os pais de crianças de quatro e duas pernas devem ser firmes, justos e coerentes. No entanto, os pais dão ordens para seus filhos em tom de desculpas.
Disciplina
Em minha experiência como veterinário de família, descobri que um bicho de estimação fora de controle indica que a família também tem problemas de disciplina com suas crianças. Cline diz que é difícil determinar se o efeito dos bichos de estimação como estímulo para um comportamento responsável é causado por eles próprios ou se isso simplesmente ocorre nas famílias em que os pais já incentivaram o senso de responsabilidade. Num certo sentido, não tem importância. Os bichos de estimação oferecem uma oportunidade para os pais, tanto quanto para as crianças, de fixar padrões, ter um comportamento coerente e conceder recompensas pelo seu bom comportamento. Os bichos de estimação, como as crianças, crescem mais saudáveis com a rotina. Sentem-se melhor quando o adulto é o líder no controle absoluto de todas as determinações.
Deixar bem claras as linhas da autoridade é bom para o desenvolvimento das crianças, a longo prazo. Aquelas que se ligam a animais, do nascimento até os cinco anos de idade, e mais tarde no início da adolescência, entre os 12 e 15 anos, experimentam um benefício a longo prazo desse relacionamento. Porensky descobriu que as pessoas que tiveram uma grande intimidade com bichos de estimação durante esses períodos de transição, mais tarde apresentaram um sentimento mais positivo de si mesmas, em particular os adolescentes. Num estudo suíço sobre adolescentes, os donos de bichos de estimação relataram ter um nível mais alto de bem-estar e demonstraram menos ansiedade.
Sentir-se Aceito
Em seu estudo sobre as semelhanças na maneira como os seres humanos e animais expressam emoções, Charles Darwin, encontrou muitos aspectos parecidos no modo como seu filho pequeno expressava medo e no modo como as outras espécies o faziam: os mesmos olhos arregalados, a boca escancarada, os músculos trêmulos, a freqüência cardíaca disparada e os pêlos eriçados. Não é de admirar que as crianças que vivem rodeadas por animais sejam melhores na compreensão da linguagem corporal. Ao contrário de outros sinais que eu recebia da minha família, às vezes conflitantes, meu cachorro Skeeter expressava amor de uma forma incondicional. Não importava o que havia no meu boletim escolar, quantos pontos marcara no jogo, se os amigos haviam brigado naquele dia ou se eu tinha uma espinha do tamanho do monte Fuji, e sim que Skeeter sempre me recebia como se minha chegada em casa, vindo da escola, ou se minha entrada na sala vindo de outra parte da casa, fosse o grande momento de seu dia.
Melhor Amigo
Crianças do mundo inteiro recorrem a seus bichos de estimação em momentos de tensão emocional. Quando se sentiam tristes, crianças alemãs da quarta série pesquisadas recorriam a seus animais, dizendo-lhes que os preferia à companhia de qualquer outra criança. Uma pesquisa de 1985, com crianças de Michigan entre 10 e 14 anos, constatou que 75 por cento voltavam-se para seus bichos de estimação quando estavam perturbadas. As crianças destacavam a capacidade do animal de escutar, tranqüilizar, demonstrar aprovação e proporcionar companheirismo.
As pessoas que não amam os animais acham hilariante a alegação de que os animais compreendem, nossas emoções. Creio que a mesma habilidade que o bicho de estimação perceba o movimento de um esquilo distante, o cheiro de um faisão escondido nas moitas ou o som do entregador de pizza antes mesmo que a campainha toque, proporcionam-lhe também a capacidade de sentir mudanças sutis nos ânimos, necessidades e emoções de uma pessoa.
As mães que trabalham fora, quer sejam sozinhas ou casadas, consideram os bichos de estimação uma maneira de normalizar as horas solitárias que uma criança pode passar em casa, depois da escola. Não apenas as mães empregadas têm maior probabilidade de adquirir bichos de estimação, como também, quanto mais horas trabalham mais tempo as crianças passam com o animal. Isso aumenta a intimidade e a importância do Vínculo. Outro estudo com crianças de 7 a 10 anos, cujas mães trabalham fora, mostrou que elas tinham maior probabilidade de descrever seus bichos de estimação como os amigos especiais.
Bichos e Família
Os estudos apontam como um bicho de estimação pode ser importante para toda a família de uma criança que passa parte do dia sozinha em casa. Quando o pai e mãe trabalham fora, o mundo se torna menor. As crianças têm menos probabilidades de se envolver com os amigos, grupos juvenis e outras atividades similares. Os pais exaustos, também têm menos disposição para expandir o mundo dos filhos. Com isso, o bicho de estimação torna-se um importante catalisador da espontaneidade e da diversão em família.
Cada pessoa sente uma ligação vital com os animais, através da qual podemos demonstrar o que temos de melhor, nossos valores mais altos. Com a prática, aprendemos a usar essas habilidades no relacionamento com os outros membros da família e com todos os cidadãos do mundo. Um bicho de estimação pode servir como um refúgio emocional, um ouvinte paciente e um elo de ligação, que proporciona à família, quaisquer que sejam as dificuldades, um senso de propósito e integração.
Bichos e Idosos
- Muitas vezes o idoso sente que não merece amor e afeição. “Sou velho, feio e muito magro; quem vai querer me abraçar?” E é o que os bichos de estimação mais oferecem, de uma forma sistemática e abundante.
O contato físico é algo de que todos nós precisamos, mas os idosos o obtêm menos do que os outros. Mara Baun, professora de enfermagem da universidade do Texas, que realizou uma importante pesquisa sobre idosos e bichos de estimação em retiros para idosos, observou a maneira constrangida como os filhos adultos abraçam seus pais.
-Você só chega ao ponto de manifestar fisicamente sua afeição por uma pessoa quando se relacionou com ela durante toda a sua vida, e os fatores subjetivos dessa interação entram em cena – disse ela. – Mas nada disso importa no relacionamento com os animais.
O que os estudos não podem demonstrar, no entanto, é que essa interação com o bicho de estimação é um relacionamento real com uma criança dotada de mentalidade própria. Não são apenas a contemplação, o afago e a redução de freqüência cardíaca. Há também o riso, a distração e as divergências.
Em 1993, uma organização lançou o programa De Idoso para Idoso. O objetivo era juntar idosos e bichos de estimação que tivessem mais ou menos os mesmos problemas e o mesmo ritmo de vida. Apesar dos benefícios óbvios, apenas 30 por cento dos idosos vivendo sozinhos têm um bicho de estimação em casa. Por saber que muitos idosos hesitam em ter um bicho porque pensa que vai custar muito, ou que não terão condições de mantê-lo, o programa oferecia alguém para ir buscar o animal e leva-lo ao veterinário, tudo de graça, além de cuidados gerais uma vez por mês. A resposta foi extraordinária. Não demorou muito para que a despesa absorvesse uma grande parcela do orçamento da liga. Pararam de recrutar novos participantes há dois anos. Ainda assim, o programa tem quase 500 participantes, cerca da metade fazendo contato semanal com a diretoria do programa, Jonnie Coe. Através dos animais, o programa tornou-se um serviço social para os idosos.
Eles ligam para perguntar se alguém pode ajudar a instalar o ar-condicionado na janela, “porque o gato não consegue viver nesse calor”. Ou pedem para alguém ir até sua casa trocar uma lâmpada. Um dos motoristas, um verdadeiro santo, agora apara o gramado de vários idosos. Têm obsessão, diz Jonnie, por manter em dia as vacinas dos animais, mesmo quando esquecem as próprias.
-Isso é tudo para eles – comentou Jonnie. – Para muitos, o animal é toda a sua vida.
No início da vida, os bichos de estimação ensinam a criança a ter responsabilidade e cuidar de outra criatura. Ao final da vida, proporcionam uma maneira de manter essas mesmas habilidades.
A decisão de ter um bicho
A natureza quer que os filhotes de qualquer espécie sejam irresistíveis, como uma forma de proteção. Um olhar para um filhote de cachorro ou gato pode nos fazer cair na armadilha, o coração entrando em sobremarcha, enquanto a cabeça fica com o freio de mão puxado. As emoções dizem sim, e o cérebro não considera o pleno impacto de 15 anos de responsabilidades diárias e despesas anuais. Tipicamente, sentimos uma paixão súbita, e levamos para a casa aquele inesperado cachorrinho ou gatinho, sem qualquer planejamento antecipado ou preparação para a vida com o bicho de estimação adulto. Por isso, quando o relacionamento começa a se deteriorar, por causa da casa suja dos arranhões nos móveis, dos buracos no jardim, dos latidos excessivos, ou do comportamento turbulento, ficamos propensos a reagir impulsivamente mais uma vez, livrando-nos da dor de cabeça inesperada.
Seis milhões de companheiros animais indesejados são entregues todos os anos a abrigos. Mandamos nossos bichos de estimação para o corredor da morte pelo crime de serem indesejados ou se tornarem um estorvo. Os comportamentos indisciplinados que contribuem para esses colapsos familiares, na maioria dos casos, poderiam ser evitados com facilidade, corrigidos com o passar do tempo...e com o tipo certo de atenção.
Os animais da raça não são imunes a essa sentença de morte. Meus colegas veterinários e eu temos combatido os problemas médicos e psíquicos provocados pela reprodução irresponsável, alimentada por séries de televisão e filmes de sucesso. Exemplos dessa criação popular são os pastores alemães (Rin Tin Tin ) , collies (Lassie), cocker spaniels ( A Dama e o Vagabundo)e, mais recentemente, os golden retrives (Air Bud), dálmatas (A guerra dos Dálmatas) e jack russel terries (Eddie, em Fraiser). Ficamos arrepiados ao pensar no próximo bicho de estimação da moda, sabendo que a reprodução amadora exagerada pode liberar os problemas médicos e comportamentais recessivos se qualquer espécie.
Como foi ressaltado, precisamos fazer mais do que apenas ver os animais ao selecionarmos um futuro companheiro de quatro patas, para um relacionamento a longo prazo. Como um namoro, a escolha de um animal deve ser determinada por mais do que apenas aparência. Precisamos ir além da atração física, analisar a compatibilidade e ter certeza de que estamos prontos para assumir um compromisso. Se não for assim, podem surgir diferenças irreconciliáveis, acompanhadas pela angústia de um rompimento na família.
Você está pronto para ter um bicho?
Como os psicólogos dizem há anos, antes de entrarmos em qualquer relacionamento amoroso saudável, devemos nos sentir seguros de quem somos e definir o que queremos. Para ter uma noção melhor das necessidades e desejos de seu importante relacionamento com um bicho de estimação, responda as seguintes perguntas:
1. Tenho tempo todos os dias para dar comida, afagar, brincar, treinar e exercitar um animal?
2. Posso incluir os custos de veterinário, seguro do animal, treinamento, alimentação, casa, higiene e outros complementos em meu orçamento mensal?
3. Sou bastante forte para treinar direito e controlar um cachorro adulto, grande e ativo? Tenho limitações físicas e domiciliares que tornam difícil, se não impossível, passear com um cachorro regularmente?
4. Por causa da minha situação de vida, faço restrições ao tamanho ou tipo do animal?
5. Alguém da minha família apresenta sinais de alergia a pêlos de animais?
6. Se estou planejando comprar um gato, mas já tenho outro animal, em casa, há espaço suficiente para prevenir uma luta territorial?
7. Quando sair de férias, o que farei com o animal?
8. Se precisar trabalhar até tarde, ou me ausentar por períodos prolongados, como poderei cuidar direito de meu animal?
Se você tem em mente outro bicho de estimação que não um cachorro ou gato, verifique antecipadamente informações sobre a legalidade responsável.
Vamos abrir a cortina um pouco mais, para ajuda-lo a imaginar um bicho de estimação em seu mundo. Por exemplo, se você é sozinho, morando num apartamento e trabalhando 14 horas por dia, pode querer um cachorro que não faça estragos e não costume latir durante o dia, mas que ainda seja capaz de latir à noite, se houver um barulho inesperado. Ou se o companheirismo, em vez de proteção, for a sua motivação, talvez um gato seja um a opção melhor, já que passa tantas horas fora de casa.
Prefere um cachorro grande, meio desajeitado e bobo ou pequeno agitado e esperto? Prefere um cachorro com um manto grosso e macio, ou um com pelo duro e raso, que não deixe sua roupa parecendo um casaco de pele? Seu gato deve ser bem ativo, do tipo que pode passar horas correndo atrás de um pedaço de barbante puxado pelas crianças, ou que se costuma chamar de “gato de estante”, um verdadeiro bibelô em forma de gato?
Se você está disposto a adotar um animal abandonado no abrigo municipal – e torço para que esteja – Parabéns.
Como acrescentar um novo animal à família:
Se você quer acrescentar um novo animal à sua família, aqui estão algumas dicas sobre a maneira de criar um primeiro encontro bem-sucedido. Como se diz: “você só tem uma oportunidade de causar uma boa impressão inicial!” Primeiro, se possível, leve os cachorros para se encontrarem num cenário neutro,como um parque ou uma praia em que sejam admitidos, talvez um canil. Isso evita a discussão sobre “De quem é essa casa?” Assim como as pessoas, alguns cachorros se dão bem no mesmo instante, e outros parecem não ter uma boa química.
Ao apresentar um novo gato à família, deixe o recém-chegado temporariamente num cômodo isolado, como o banheiro, a fim de que os outros se acostumem pouco a pouco à sua presença. Alimente os gatos dos dois lados de uma porta fechada, para que possam associar uma experiência positiva ao cheiro um do outro. Procure passar a mesma toalha sobre os pêlos dos dois, para que os cheiros se misturem, como uma estratégia para a redução das hostilidades.
Nos dois casos, quer seja introduzido um novo cachorro ou gato, conceda aos residentes mais antigos os privilégios de sua posição. Faça uma saudação primeiro ao animal mais antigo, alimente-o primeiro, permita sua presença na maioria dos cômodos ou lugares da casa (variando de seu colo à sua cama) e dispense-lhe mais atenção. Afinal, o animal conquistou esse direito.
O Vínculo Supremo
A conseqüência de amar seu bicho de estimação de uma maneira nova e mais estreita é um Vínculo reforçado em nível hormonal e neurológico. Trocando em miúdos, vamos examinar o que você pode incorporar aos rituais diários de seu animal, a fim de ser a grande fonte de amor em sua vida. A receita inclui o contato terapêutico, o aumento da brincadeira interativa, limpeza dos dentes, escovação do pêlo ou até o preparo ocasional de um petisco especial ou uma refeição feita em casa. Pelo menos uma vez por semana, abra a dispensa e torne-se o chef pessoal de seu bicho de estimação, preparando uma refeição doméstica ou um petisco saboroso.
Se você acredita que os bichos de estimação podem ajudar a tornar e manter as pessoas saudáveis, uma pergunta incômoda pode contestar essa convicção: Se mais de 60 por cento das casas americanas têm bichos de estimação, por que a maioria das pessoas não é muito mais saudável? Para que uma prescrição dê resultados, devemos aceitá-la como é determinada. A maioria das pessoas não aproveita o Vínculo tanto quanto poderia. Há histórias que mostram que as pessoas com os Vínculos mais profundos com seus bichos de estimação são as que obtêm os maiores benefícios para a saúde.
Sempre vivi cercado por animais, mas não aproveitei realmente seus saudáveis poderes até ficar doente. Quando a doença me obrigou a encarar o aqui e agora, os animais se tornaram meus fisioterapeutas, consultores de administração de dor, personal trainers e psicólogos. Só recebi esses benefícios porque encontrei tempo para aprofundar o Vínculo: diminuí meu ritmo de atividade, segui os instintos e comecei, como os animais, a escutar meu coração e a expressar gratidão pelas dádivas mais simples.
Animais de Companhia
O objetivo é o Vinculo, não a submissão
Como são animais sociais, os cachorros adoram se manter em contato com seus companheiros a distância, mesmo quando não podem consultar o “pipi-mail”, visitar os amigos ou observar as dicas visuais.
Se você é “pai” ou “mãe” de um cachorro, sabe que eles mantêm a conversa em dia soltando a voz para o bairro inteiro ouvir, na sua versão canina de teleconferência. Cada latido, uivo, ganido ou mudança no tom é compreendido por todos os cachorros que os ouvem. Os enormes dinamarqueses falam a mesma linguagem que os pequenos chihuahuas. Diferentes latidos, ganidos e uivos transmitem felicidade, mágoa, medo solidão e advertências, mesmo que seja apenas “Ei,alguém por aí pode me ouvir? Estou me sentindo muito solitário!”
Bom Senso
Em sua ânsia por criar um paraíso na Terra para seu animal, devo adverti-lo para não exagerar em seu afã de lhe dar tudo o que é humanamente possível. Todos somos culpados de atribuir em excesso qualidades e condições humanas a nossos gatos ou cachorros de vez em quando. Também precisamos deixar que os cachorros sejam cachorros e os gatos sejam gatos. Não faça seu animal renunciar a sua verdadeira identidade para se ajustar ao molde rígido de intimidade ou às características humanas ideais.
O embotamento dos sentidos de um cão pastor que não tem nenhum rebanho para pastorear ou de um gato caçador que vê pela janela a presa fora de seu alcance deveria nos preocupar mais do que acontece. Não ser capaz de realizar sua natureza biológica e social básica põe em risco a saúde, felicidade e a longevidade do animal. Há muitos anos, chegamos à conclusão de que os animais num zoológico, trancados em jaulas, sem qualquer estimulação, tornavam-se frustrados, entediados, autodestrutivos, doentes e infelizes. Os bichos que não recebem a estimulação necessária ou, pior ainda, ficam trancados num canil ou acorrentados durante o dia inteiro passam pela frustração equivalente do confinamento solitário
Para entender realmente o que acontece nessas circunstâncias, imagine que está assistindo a um filme 3-D e lhe pedem para tirar os óculos. Depois,o som é abaixado cada vez mais e as cores são diluídas, até que a tela se torna apenas matizes de cinza. Os sons continuam, mas parecem distantes; a mesma imagem ainda surge diante de seus olhos, e você pode vê-la, mas não experimenta-la como antes.
Expressão
Em vez de tentar impor uma personalidade preferida a seu animal, promova a personalidade exclusiva dele, livre de seus caprichos e anseios.
Se permitir que o animal expresse seus comportamentos naturais, então você também estará alcançando o auge da perfeição animal-pessoa: o Vínculo”.
Estamos preparados para o Vínculo.
A maioria das pessoas já passou por momentos em que o Vínculo era quase perfeito. Chame de experiência mágica, ou um chamado da natureza. Em vez de tentar interpretar ou definir o que aconteceu, devemos apenas reconhecer o que é – uma prova viva da poderosa ligação entre a humanidade e o resto do reino animal – e tomar providências para que aconteça mais vezes.
O mistério do Vínculo jaz no fato de não nos inspirar ainda mais assombro e admiração do que inspira. Dentre mais de 4.000 espécies de mamíferos na Terra, apenas umas poucas dezenas se tornaram domesticadas e apenas duas abriram em massa as portas de nossos corações e casas. Os dados estatísticos mostram que cerca de seis residências em cada dez, nos Estados Unidos, têm bichos de estimação, enquanto apenas três, em cada dez, têm crianças.À medida que envelhecemos os bichos de estimação passam a ter importância ainda maior, como o nosso Vínculo com a vida.
Por intermédio de nossos animais, temos uma maneira prática, confiável e rotineira de nos relacionar com a natureza, rompendo as correntes da humanidade e suas criações. Esse relacionamento, essa ligação afetuosa especial, o Vínculo nos proporciona um senso incomparável de união com a natureza; diz-nos que não estamos acima, mas que somos parte. Nossos cachorros e gatos permitem uma visão íntima e permanente da mente e do espírito de outros mamíferos, servindo como uma teia que nos liga com a vastidão da natureza. E, no coração desse vínculo com a vida, está o poder curativo, simples e infalível.
Os bichos de estimação são totens dos valores que prezamos, um canal da ligação histórica entre os seres humanos e a natureza. Ajudam-nos a cultivar a consciência de que não estamos sozinhos neste mundo, mas unidos com todas as coisas vivas. Levam-nos para fora de nós mesmos, restabelecendo o nosso contato com o mundo em que vivemos. A necessidade que temos uns dos outros, em parte espiritual, em parte física, ajuda-nos a ser felizes e saudáveis.
“Os animais são como nós, mas ao mesmo tempo, muito diferentes. Em nossa simbiose, descobrimos que os animais são muitas vezes mais humanos do que os seres humanos, refletindo nossos melhores impulsos de humanidade. Não mentem e não enganam, têm uma lealdade total e um amor incondicional. Embora esses atributos sejam representativos do mundo dos bichos de estimação, são bem poucos os humanos que os exibem.”
Fonte: adaptado de: “O Poder Curativo dos Bichos”, Dr. Marty Becker, editora Bertrand Brasil
http://www.institutoninarosa.org.br/vinculo.html
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