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Medicação, só se o veterinário mandar!

Escrito por Silvia Schultz - Médica Veterinária - CRMV - RS 12750 .

Nossos animais estão susceptíveis à uma série de doenças e problemas de saúde, e não rara é a necessidade de uma visitinha ao veterinário periodicamente. Porém muitas vezes, a consulta veterinária é protelada ao máximo na tentativa de economizar tempo e dinheiro e assim tentar chegar à um diagnóstico fácil que cura rapidamente com um remedinho caseiro. No entanto, o que muitos não sabem, é que um tratamento mal orientado e com medicações erradas pode prejudicar o animal e inclusive, em alguns casos, levá-lo à morte.

A primeira coisa que devemos saber é que um diagnóstico se faz através de avaliação do quadro clínico do animal aliado à exames complementares. E para que o diagnóstico seja o mais correto possível, é necessário um exame ao vivo do animal por um veterinário. Jamais se faz diagnóstico baseado apenas em lista de sintomas, fotos ou ainda através de fóruns da internet, pois cada animal é único e deve ser examinado individualmente e cautelosamente. Uma vez determinada a causa do problema, é instituído um tratamento adaptado ao animal de acordo com a doença que ele está apresentando.

Mas muitas vezes, o tratamento adequado é substituído pelas famosas receitas caseiras e o uso de medicações sem orientação profissional. Muitos guardiões imaginam que medicações de uso comum em humanos são inofensivas aos animais, quando na verdade são tóxicas e podem matar.


Gatos por exemplo, são particularmente sensíveis à uma série de medicações que humanos usam diariamente sem maiores problemas. Medicações como o Paracetamol, analgésico bastante conhecido, é extremamente tóxico e pode matar.  O Acetaminofeno, princípio ativo do Paracetamol é um antiinflamatório não esteroidal (AINE) inibidor da ciclooxigenase. Ao ser administrado em gatos forma metabólitos tóxicos que culminam com anemia hemolítica e necrose hepática. Os sinais incluem hipóxia (diminuição do oxigênio nos tecidos), cianose (coloração azulada de mucosas por falta de oxigênio circulante), salivação, vômitos, depressão do sistema nervoso central, anorexia (falta de apetite), edema facial (após três dias) e icterícia (coloração amarelada das mucosas devido ao dano hepático). Casos graves levam à um quadro de coma e morte. Cães também podem desenvolver toxicidade à esse medicamento, porém com intensidade menor.

Outro caso semelhante ocorre com o diclofenaco. Este antiinflamatório, bastante usado por humanos, pode ocasionar sangramentos e úlceras gástricas importantes em cães com apenas algumas doses, portanto jamais devem ser administrados nestes animais.

Corticóides também devem ser utilizados com muito cuidado, e sempre sob orientação veterinária. Estas medicações, também chamadas de glicocorticóides ou antiinflamatórios esteroidais, em doses altas e prolongadas podem levar ao hiperadrenocorticismo (insuficiência da glândula adrenal), e jamais podem ser administrados em pacientes com infecções, sangramentos, pancreatites, doenças renais e cardíacas em função de seus sérios efeitos colaterais. Colírios à base de corticóides podem levar à perfuração do olho quando usados na presença de lesões ou úlceras de córnea, o que reforça a idéia de que somente podem ser administrados no animal após avaliação e orientação veterinária.

Outro grupo de medicações que freqüentemente são usados de forma incorreta são os antibióticos. Muitos guardiões acreditam que qualquer antibiótico pode ser usado em qualquer situação, quando na verdade não é assim que acontece. Essas medicações somente devem ser utilizadas na presença de um processo infeccioso, e são específicas para determinados microorganismos. Daí a necessidade de saber exatamente qual o tipo de infecção que o animal está apresentando, pois se a medicação usada for a errada, corre-se o risco de piorar consideravelmente o quadro clínico do animal.

Além disso, não podemos esquecer que qualquer medicação, seja ela qual for, somente pode ser administrada na dose e freqüência corretas. Mais um motivo para consultar um veterinário antes de medicar nosso animal. Cada animal deve receber a quantidade correta de fármaco a fim de promover o alívio dos sinais clínicos com o mínimo de efeitos colaterais. Caso ocorram overdoses, podem ocorrer toxicidades que não raramente levam à morte. Se a freqüência e o tempo de tratamento forem inadequados, para mais ou para menos, o animal poderá desenvolver resistência ao medicamento e não obteremos a cura.

Dessa forma, enfatiza-se a necessidade de avaliação prévia por um veterinário antes de administrar qualquer medicação aos nossos animais. Devemos ter em mente que qualquer medicação, quando administrada de forma incorreta, pode matar. É necessário que tenhamos responsabilidade e seriedade em relação aos cuidados com a saúde de nossos pets, pois é disso que depende o bem estar e a qualidade de vida deles.

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