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Colecionismo animal – quando a proteção ultrapassa o seu limite

Escrito por Silvia Schultz - Médica Veterinária - CRMV - RS 12750 .

Com o grande número de animais abandonados pelas ruas do nosso país, se torna cada vez mais difícil não nos sensibilizarmos e sentirmos vontade de levar um ou outro para casa. A cada esquina, a cada rua, a caba beco, sempre tem uma carinha faminta e sofrida esperando por um milagre e muitas vezes, é difícil resistir. Algumas pessoas então dedicam suas vidas retirando esses animais das ruas, cuidando, vacinando, vermifugando, castrando e doando. São os chamados protetores, que lutam diariamente para dar uma vida melhor e mais digna à milhares de cães e gatos abandonados.

Porém, proteção animal é coisa séria. Exige tempo, seriedade e responsabilidade. Além disso, é preciso ter espaço disponível e arcar com os gastos inerentes aos cuidados com os animais. É preciso ponderação, organização, planejamento. E é aí, exatamente nesse ponto, que muitas pessoas acabam se perdendo, e de protetores passam a colecionadores.

O limite entre proteger e colecionar animais, portanto, é tênue e perigoso. Muitas pessoas agem por impulso, retirando animais das ruas sem antes saber se terão como cuidar deles. Não há planejamento. Pegam um, dois, três e quando menos se espera já estão com 10 ou 20. A desculpa é sempre a mesma: “sempre cabe mais um”. A casa então vira um abrigo de animais abandonados. Muitos cães e gatos juntos, em um espaço inadequado, sem receber alimentação adequada, mal cuidados, sujos e muitas vezes doentes. O dinheiro não chega para tantos animais, o tempo e o espaço também não. Eles não podem ser castrados, e se reproduzem indiscriminadamente aumentando ainda mais o problema. Não podem ser vacinados, vermifugados e consequentemente, não conseguem donos responsáveis.


O problema então aumenta cada vez mais. Mais animais, mais dívidas, barulho excessivo, cheiro ruim, reclamações dos vizinhos, brigas entre os animais, que já não tem mais qualidade de vida. A ração acabou e o mês ainda está na metade. Começam as exigências: “preciso de dinheiro, preciso de atendimento gratuito, preciso de espaço, preciso de toda e qualquer ajuda possível.” O que era para ser um resgate, acabou tornando-se um grande erro, o que era para ser apenas um lar temporário acabou virando um depósito de cães e gatos doentes e famintos.

Portanto se você é uma dessas pessoas que não resiste à um olhar abandonado, por favor, considere alguns pontos essenciais antes de se responsabilizar pelo resgate de um animal. Tenha em mente que, por mais que você tenha amor para dar, somente isso não basta. É preciso mais: cuidados veterinários, vacinas, vermífugos, exames, avaliações. É preciso espaço e tempo disponíveis. Animais recém-chegados não devem ser misturados com os animais da casa, portanto é necessário um local para quarentena. É necessário paciência, pois muitos são mal socializados e brigam. É necessário ração de boa qualidade, abrigo, banhos periódicos, um local para o xixi e o cocô e um espaço para que possam se exercitar e brincar. Depois disso vem a castração e a luta por donos responsáveis. Não se doa animal para qualquer um, é necessário critério, e isso leva tempo. Mas acima de tudo, é necessário responsabilidade. Ter em mente que, a partir do momento em que se retira um animal das ruas, esse animal passa a depender totalmente de seu novo tutor. Isso significa que se você resgatou um cão ou um gato da rua, você (e mais ninguém) é responsável por tudo aquilo que ele precisa para crescer bem e saudável.

Podemos ver então como é delicado, quase imperceptível, o limite entre proteger e colecionar. Em função disso, é preciso muita cautela no momento de resgatar um animal, pois quem resgata torna-se responsável por uma mudança, para melhor ou para pior, na vida de ambos. Então se você não tiver certeza absoluta de que será possível arcar com todos os cuidados necessários, não resgate. Ajude de outras formas, apadrinhando, divulgando animais para doação, doando ração, paninhos e roupinhas, visitando abrigos e ONGs, educando para a guarda responsável, doando um pouco de seu tempo livre para brincar com cães e gatos em uma tarde de verão. Existem muitas maneiras de mudar a vida de um animal abandonado. É só escolher a que melhor se adapta às suas condições e pronto. Você poderá fazer um peludinho muito feliz.


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