Cinomose
Introdução:
A cinomose é uma doença infecto contagiosa que afeta várias espécies de carnívoros, especialmente cães. É causada por um vírus do tipo RNA envelopado, do gênero Morbillivirus e da família Paramyxoviridae. Tem uma incidência bastante alta no Brasil, principalmente nas épocas mais frias do ano.
É a segunda maior causa de morte por doenças infecciosas em cães filhotes, seguidas apenas pela parvovirose. Em adultos também é muito freqüente e afeta principalmente cães até 9 anos de idade. Antes de 2 meses de idade a doença é muito rara, e de 6 meses até um ano chega a representar até 47% dos casos.
Transmissão:
Sua transmissão é pela rota oro nasal, ou seja, através de secreções (nasal, oral e urina) e aerossóis expelidos por cães doentes. O vírus é altamente contagioso, e cães saudáveis que entram em contato com cães infectados freqüentemente adquirem a doença. No entanto, por ser um vírus envelopado, ao mesmo tempo em que sua infectividade é grande, sua sobrevivência no ambiente é muito baixa, sobrevivendo cerca de 1 a 3 horas ou até menos quando forem usados produtos desinfetantes ou em dias de altas temperaturas.
Patogênese:
A partir do momento que o animal é infectado até o 10º dia pós infecção, ocorre o que chamamos de viremia primária. A viremia primária é a primeira replicação que o vírus sofre após entrar no organismo do cão. Esta multiplicação viral ocorre nas vias respiratória e oral (boca e faringe) e em seguida o vírus consegue chegar à corrente sanguínea. A partir do 10º dia e até o 21º dia, ocorre uma nova multiplicação, desta vez em órgãos linfóides, como o baço e os linfonodos (viremia secundária). Nesta etapa, já com uma carga viral altíssima, o vírus atinge novamente a circulação sanguínea e ataca vários tecidos e órgãos do corpo. Por volta do 18º dia pós infecção, já temos comprometimento do sistema nervoso central (fase neurológica), o que muitas vezes torna a doença irreversível.
Sinais clínicos:
A doença é dividida em três fases, que não necessariamente precisam ocorrer no mesmo animal: fase digestiva, respiratória e neurológica. O filhote dificilmente terá a fase neurológica sem antes apresentar as fases digestiva e respiratória. Já no animal adulto é bastante comum a doença se manifestar na fase neurológica sem que ele apresente as outras duas.
A fase digestiva da cinomose se caracteriza por apatia, anorexia, febre, vômito, diarréia aquosa, dor abdominal e desidratação. Nesta fase temos sinais mais inespecíficos, o que torna o diagnóstico mais difícil de ser realizado.
A fase respiratória é mais comum nos meses de inverno e é caracterizada por apatia, anorexia, febre, tosse, estertoração (ruídos respiratórios), dispnéia (falta de ar) e secreção nasal e ocular.
A fase neurológica, normalmente a mais complicada e difícil de reverter, caracteriza-se por apatia, anorexia, febre, mioclonia (tiques e espasmos musculares), ataxia (incoordenação motora), convulsões, paresia (fraqueza), paralisia e atrofia muscular.
Outros sinais bem característicos da doença são as pústulas abdominais (vesículas cheias de pus) que ocorrem em função do vírus se multiplicar nas camadas mais superficiais da pele, a hiperceratose (endurecimento) dos coxins e dermatite periocular (o pêlo ao redor dos olhos cai em função da secreção úmida e contínua).
Diagnóstico:
O diagnóstico da cinomose é realizado através dos achados clínicos sugestivos da doença associados à exames laboratoriais e achados de necropsia. No exame laboratorial (sangue) se faz a pesquisa de corpúsculos de inclusão (partículas do vírus) nas células dos órgãos afetados. No hemograma é analisada a série leucocitária. Na grande maioria das vezes se verifica uma leucocitose (aumento dos leucócitos) com uma marcada linfopenia (diminuição dos linfócitos). Pode aparecer também um desvio à esquerda regenerativo quando há infecção bacteriana associada, e na fase terminal da doença ocorre uma leucopenia (diminuição dos leucócitos) com linfopenia e desvio à esquerda degenerativo em função da septicemia (infecção generalizada) e toxemia medular.
Tratamento:
O tratamento consiste em tratar as infecções bacterianas secundárias com o uso de antibióticos e manter o paciente estável através do controle de sintomas e hidratação venosa.
Prevenção:
A maneira mais eficaz de prevenir a cinomose é através da vacinação. Cães filhotes devem receber três doses da vacina polivalente com início aos 45-60 dias (aproximadamente) e intervalos de 30 dias, ou seguindo protocolo a critério do médico veterinário. Além disso, são necessários reforços vacinais a fim de manter o animal protegido. Importante frisar que mesmo vacinado, o cão ainda tem o risco de contrair a doença em função da falha vacinal, portanto cães saudáveis jamais devem ser mantidos juntos de cães doentes, devido à alta infectividade do vírus. Filhotes jamais devem ser levados para passeios na rua antes de terem o ciclo vacinal completo (três doses da polivalente), pois o risco é bastante grande.
O vírus sobrevive pouco tempo no ambiente, apenas cerca de 1 a 3 horas. Quando submetido à altas temperaturas (água quente com desinfetante por exemplo), o tempo de sobrevivência cai pela metade.
Referências:
Fighera R.A., et all. Causas de morte e razões para eutanásia de cães da Mesorregião do Centro Ocidental Rio-Grandense (1965-2004). Pesquisa Veterinária Brasileira 28(4):223-230. Departamento de Patologia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS
Silva M.C., Fighera R.A. et all Aspectos clinicopatológicos de 620 casos neurológicos de cinomose em cães. Pesquisa Veterinária Brasileira 27(5):215-220. Departamento de Patologia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS
Silva M.C., Fighera R.A., et all Neuropatologia da cinomose canina: 70 casos (2005-2008). Pesquisa Veterinária Brasileira 29(8):643-652. Departamento de Patologia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS
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