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Primeiros socorros

Escrito por Silvia Schultz - Médica Veterinária - CRMV - RS 12750.

Primeiros socorros – O que fazer e o que não fazer diante de uma emergência.

Introdução:
A relação do homem com seus animais de estimação têm evoluído bastante nos últimos anos. Muitos cães e gatos que antes viviam soltos nos quintais e nas ruas, hoje vivem confortavelmente dentro de casa e passaram a participar ativamente do núcleo familiar. Com isso, evoluem também as noções da guarda responsável dos animais de estimação, ou seja, responsabilizar-se pelo animal e prover à ele o máximo de bem estar e qualidade de vida.

Neste contexto então, a guarda responsável é vista como um termo bastante amplo que abrange entre outras coisas uma alimentação adequada, abrigo, socialização, assistência veterinária de qualidade e proteção. Todos estes cuidados proporcionam ao animal a oportunidade de uma vida longa e saudável. A restrição dentro de casa ou quintal telado, por exemplo, mantém o animal longe de riscos de atropelamentos, brigas com outros animais, envenenamentos e outros traumas que podem levar à morte ou à seqüelas irreversíveis.

Porém, mesmo com todos estes cuidados, acidentes são passíveis de ocorrerem. Uma fuga imprevista, o guia que soltou durante o passeio, quedas, cortes, fraturas e queimaduras, são situações de urgência que exigem uma rápida intervenção e atendimento veterinário o mais breve possível. Assim, este texto tem por objetivo orientar as atitudes que devem ser tomadas diante de uma situação de emergência que coloque a vida do animal em risco até que seja providenciada assistência veterinária. É importante frisar que não temos a intenção de substituir o atendimento profissional em hipótese alguma, mas sim orientar noções de como agir de forma a preservar ao máximo a integridade do animal, prevenir complicações e aumentar as chances de sobrevida.

Primeiros socorros – Por onde começar?

Entende-se por primeiros socorros o tratamento imediato e provisório dado em caso de acidente ou enfermidade imprevista. Geralmente se presta no local do acidente e, com exceção de certos casos leves, até que se possa por o animal a cargo de um veterinário para tratamento definitivo.

Desta forma, a primeira coisa que se deve fazer diante de um acidente que coloque a vida do animal em risco é tentar manter-se calmo e fazer contato com um serviço veterinário. É importante ter em mãos números de telefones de profissionais ou clínicas que atendam 24 horas e finais de semanas. Uma vez que o veterinário tenha sido avisado e se desloque até o local ou forneça as orientações necessárias, algumas providências já podem ser tomadas:

A primeira coisa a ser feita é um exame rápido do animal. Em muitos casos se vê de imediato quais os sinais clínicos e/ou lesões que o animal está apresentando. A primeira coisa a se observar é se o animal está conseguindo respirar. Sons respiratórios anormais e dificuldade respiratória podem sugerir obstruções de vias aéreas (objetos, terra, vômito, etc), o que torna o quadro mais grave e necessita intervenção mais urgente. Caso o animal esteja conseguindo respirar normalmente, um exame físico mais detalhado pode ser realizado, observando se há fraturas expostas, pontos de sangramentos, alterações na respiração, vômitos, diarréia, convulsões, agitação ou perda da consciência. Os membros e a coluna vertebral devem ser avaliados cuidadosamente a fim de verificar a possibilidade de fraturas.

É importante nestes casos jamais movimentar o animal em excesso, sob risco de provocar novas fraturas ou agravar as já existentes. Movimentos com o animal devem ser os mínimos possíveis e com o máximo de cuidado. Se ele conseguir caminhar e mostrar-se desorientado, deve ser confinado em um local de forma que fique o mais quieto possível, por exemplo, em uma caixinha de transporte ou em um quarto pequeno. Não deve ser deixado sozinho nem por um instante, pois animais traumatizados podem piorar rapidamente, portanto necessitam de vigilância constante.

Após o exame físico, o animal deve ser mantido quieto e em um local tranqüilo. Deve ser movimentado o mínimo necessário, e se possível ser colocado de lado para que, se ocorrerem vômitos, não haja aspiração e risco de falsa via. Não deve ser administrado nada para o animal comer ou beber. Mantê-lo aquecido, pois animais traumatizados perdem temperatura rapidamente. Outros cuidados diante de determinadas situações devem ser tomados:


- Convulsões: diante de uma crise convulsiva, a primeira coisa a se fazer é manter a calma e afastar do animal objetos e móveis que possam feri-lo, como cadeiras, mesas, vasos de flores etc, e protegê-lo com travesseiros e almofadas.  Nunca tentar abrir a boca do animal, pois ele fatalmente irá morder com bastante força. Jamais administrar nada por via oral, nem alimento, nem água. Não tentar segurá-lo, pois as contrações musculares são fortes e se alguém o segurar à força, pode machucá-lo. Mantê-lo em um local calmo e à meia-luz, aguardar a crise passar e providenciar atendimento veterinário imediatamente.
- Fraturas: membros fraturados devem ser mantidos imobilizados. Se a fratura deformou o membro, não recolocar os ossos no local, e imobilizar do jeito que está. Ao tentarmos “reduzir” uma fratura, ou seja, recolocar os ossos no lugar, corremos o risco de causar novas quebraduras e até mesmo hemorragias no local, dificultando a recuperação. Providenciar atendimento o mais rápido possível.
- Objetos estranhos: se houverem lesões com objetos pontiagudos e os mesmos permanecerem na pele, como lascas de madeira, vidros, pedras ou semelhantes, evitar retirá-los. Muitas vezes estes objetos formam tampões e evitam sangramentos, e ao retirá-los, podem ocorrer hemorragias. O local machucado deve ser envolto com um pano limpo e mantido imobilizado até o atendimento profissional.
- Intoxicações: várias substâncias podem causar intoxicação e até mesmo matar. É importante jamais induzir ao vômito quando a substância ingerida é cáustica, ácida ou derivada de petróleo, sob risco de queimaduras químicas em boca e esôfago. Não administrar nada por via oral na tentativa de neutralizar a substância ingerida sob risco de aspiração e falsa via. Observar constantemente o estado de consciência do animal e providenciar atendimento veterinário rapidamente, se possível levando consigo o nome e/ou rótulo da substância ingerida. Mais informações sobre intoxicações AQUI.
- Hemorragias: se a hemorragia for visível e o local de fácil acesso, deve ser colocado um pano limpo sob o ponto do sangramento e fazer uma compressão com as mãos até o sangramento parar ou até o animal for atendido. Se a hemorragia for interna (não visível), a situação é mais grave. Neste caso o animal pode estar entrando em choque, e alguns sinais começam a surgir: distensão abdominal, ansiedade e inquietação seguida por apatia, diminuição da quantidade de urina, hipotermia (queda de temperatura), respiração acelerada, mucosas pálidas e descoradas, pele fria e pegajosa e batimentos cardíacos acelerados. Neste caso o animal deve ser mantido quieto e bem aquecido, deitado de lado com a cabeça estendida para facilitar a respiração, com a parte traseira erguida, (sob um cobertor ou travesseiro) e o atendimento veterinário deve ser priorizado, pois o risco de vida é muito grande.

Além destas já descritas, muitas outras situações podem ser consideradas emergenciais por oferecerem risco de vida iminente ao animal. Diarréias e vômitos severos, queimaduras, atropelamentos, traumas por eletricidade, afogamento entre outros, requerem o máximo de cuidado e brevidade no atendimento. As orientações fornecidas aqui, de forma alguma substituem o atendimento veterinário e destinam-se tão somente a manter o animal vivo e estável até que possa ser encaminhado à um serviço especializado. O atendimento veterinário em qualquer situação que traga risco de vida, bem como situações que tragam dor e desconforto ao animal é imperativo e necessário e lhe proporciona uma vida longa, feliz e com muito mais saúde.

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