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Meu animal está com Câncer, e agora?

Escrito por Daiana Rauber - Médica Veterinária.

O que é o câncer?
Quando as células do corpo se dividem e se multiplicam rapidamente e de forma desordenada e descontrolada elas formam uma massa, chamada tumor. Quando este tumor é maligno, é chamado de câncer. Isto pode acontecer com qualquer célula do organismo, embora as células de vida curta e substituição rápida, por possuírem uma taxa de divisão maior, estejam mais propensas.     

Dá pra prevenir?
Alguns tipos de tumores podem ser prevenidos, ou seja, podem ter sua probabilidade de ocorrência reduzida. Alguns tumores de pele, como o carcinoma de células escamosas, que ocorre frequentemente em gatos brancos, especialmente nas orelhas e focinho, estão fortemente relacionados com a exposição aos raios solares, Eles podem ser prevenidos utilizando-se protetores solares específicos para animais ou evitando que esses animais se exponham nos horários de sol mais forte, entre as 10h e as 16h, assim como os humanos também deveriam fazer...  
O tumor de mama é uma neoplasia muito comum e que também pode ser prevenida. Ela representa aproximadamente 42% de todos os tumores na espécie canina e mais de 50% dos tumores encontrados em fêmeas. Representa 82% dos tumores do aparelho reprodutivo das fêmeas, sendo a neoplasia mais comum nas cadelas. A castração realizada antes do primeiro estro reduz o risco de desenvolvimento de neoplasia mamária para neoplasia mamária para 0,05% em relação a cadelas não castradas. Se castradas antes do segundo cio esse risco aumenta 8% e depois do segundo cio ou mais tarde os riscos aumentam para 26%.  É apenas uma localização de tumor... mas se você pensar que é mais da metade dos tumores encontrados em cadelas e sua ocorrência diminui tão drasticamente com a castração... Vale a pena pensar com carinho no assunto!
O TVT, ou tumor venério transmissível, é adquirido pelo coito com animal portador, ocorrendo geralmente em cães não castrados e com acesso à rua. A maioria dos casos ocorre na região genital, mas pode ocorrer também no focinho, pelo hábito dos cães de cheirar uns aos outros. A castração e o costume de manter o cão no seu quintal, saindo apenas acompanhado e na guia, ajudam a prevenir o TVT.

O que fazer?
Alguns tumores, como os de pele e de mama, que são os mais comuns em cães e gatos, podem ser percebidos pelo proprietário, e é importante que tão logo sejam notados, o animalzinho seja levado ao veterinário. O prognóstico varia conforme o tipo tumoral, localização, tamanho, tempo de crescimento, entre outros fatores. Via de regra, quanto antes forem tratados, mais fácil o tratamento e melhor o prognóstico, por isso a importância de procurar ajuda veterinária tão logo se perceba a alteração.
Se houver possibilidade em sua cidade ou próximo, procure um veterinário especialista em oncologia. Ele possui conhecimentos específicos na área e está mais habituado a lidar com estes casos.

Como é o diagnóstico?
O diagnóstico dos tumores pode ser feito através de um exame citológico, onde se retira algumas células tumorais através de uma agulha, cujo resultado não é definitivo, mas que, além de pouco traumático e não necessitar sedação ou anestesia (salvo raras exceções), auxilia na escolha do tratamento ou na definição das margens cirúrgicas, por exemplo.  
O exame histopatológico, ou biópsia, onde se retira o tumor, ou parte dele para análise, oferece resultado definitivo, porém é um procedimento cirúrgico, sendo necessária a anestesia do animal. Além disso, em caso de não haver a margem cirúrgica necessária, que varia conforme o tipo do tumor, o animal pode precisar passar uma segunda cirurgia, para que seja ampliada a margem cirúrgica. A maior chance de cura é na primeira cirurgia, por isso a importância de fazê-la com um profissional habilitado e com conhecimento em oncologia. Toda massa tumoral removida deve sempre passar por exame histopatológico, para se conhecer o diagnóstico e poder formar um prognóstico, bem como para análise dos bordos, para verificar se a margem cirúrgica foi adequada.
Além disso, é importante examinar o animal, ver o seu estado geral, visto que normalmente são animais idosos e não raro apresentam outras doenças concomitantes. É importante também verificar a presença de metástases. Os órgãos mais comumente acometidos são os pulmões e o fígado, por isso é importante fazer radiografia de tórax e ultrassom abdominal para verificar como estão esses órgãos.

Tratamentos possíveis?
Alguns tumores podem ser curados por completo, outros podem ter seu crescimento reduzido ou controlado, com maior ou menor sucesso.
A cirurgia é necessária em boa parte dos casos. Em alguns casos ela é curativa, ou seja, retira-se o tumor por completo, verifica-se a adequação das margens através da biópsia e estando adequada, o tratamento está completo.
Outros tumores respondem bem à quimioterapia. Existem diferente fármacos quimioterápicos, que agem de forma diferente, e a escolha do mais adequado varia conforme o tipo de tumor, o estado geral do paciente e o comportamento dele (em alguns a administração deve ser lenta e evita-se utilizar em animais excessivamente agitados ou agressivos). Muitas vezes os proprietários tem receios quanto à quimioterapia pelos conhecidos efeitos colaterais em humanos.  Porém os animais costumam tolerar o tratamento, com pouco ou nenhum efeito colateral. Os mais comuns são vômito e diarréia, que deve ser comunicados sempre ao veterinário, para que se trate o problema conforme necessário. Raramente ocorre perda de pêlos.   
Em diversos casos pode-se aliar a cirurgia e a quimioterapia, utilizando-se a quimioterapia para reduzir o tumor antes que seja operado, ou depois da cirurgia, para evitar recidivas ou metástases.
Em outros casos ainda, não há expectativa de cura, por haver metástases, por exemplo, mas o tumor está excessivamente grande, ulcerado, causando grande incômodo e dor ao animal. Nesse caso pode-se realizar a cirurgia para propiciar maior conforto ao paciente.

Importância dos cuidados paliativos?
Em muitos casos, não há expectativa de cura para o animal, pelo tumor ser muito agressivo, ocorrência de metástases ou outros motivos. Porém o animal ainda pode viver por algum tempo com boa qualidade de vida, como ocorre em outras doenças, como o diabetes. É importante fazer o correto controle da dor, ponto fundamental, visto que grande parte dos tumores causa dor e ela contribui para a queda da qualidade de vida. Cuidar da alimentação é outro ponto importante, bem como a hidratação. Se o animal não está se alimentando, é importante verificar se o controle da dor está adequado (dor é uma importante causa para o animal deixar de se alimentar), e procurar outros alimentos mais palatáveis que possam ser oferecidos. E manter o tratamento indicado pelo veterinário, como quimioterapia, medicamentos para controlar náuseas e dor, ou outros que sejam necessários;
Outro fator é a preocupação com o tempo que o animal vai viver. Neste caso, o mais importante não é esticar a vida a qualquer custo, muitas vezes prolongando apenas o sofrimento do animal, e também da família, mas sim que o animalzinho tenha qualidade de vida durante este tempo. É importante que ele tenha conforto, que sua dor e outros sintomas que causem seu sofrimento sejam controlados da melhor forma possível e que ele tenha todo carinho e atenção de sua família!

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